Tomamos um café com um ex-colega do Steve Jobs na Apple

O que você recomendaria para alcançar uma posição de alto escalão?

Primeiramente, eu recomendaria pensar muito bem sobre por que você quer alcançar uma posição de alto escalão!

Não é para todos, e eu conheço muitas pessoas que estão mais felizes com uma posição sênior, prática e de contribuição individual.

Em seguida, acho que é realmente importante ter uma forte experiência “cross-functional”. Portanto, se você estiver interessado em ser um CMO (marketing), por exemplo, certifique-se de passar algum tempo trabalhando em uma equipe de vendas ou sucesso do cliente. Se você só tem experiência e expertise em uma área, é muito mais difícil ter sucesso em uma posição de alto escalão.

Além disso, é essencial desenvolver um pensamento estratégico e analítico se você quiser alcançar uma posição de alto escalão. Analise os desafios de curto prazo com uma perspectiva de longo prazo. Como você resolve os problemas de negócios de hoje de uma forma sustentável e escalável para o futuro?

Quais foram os principais desafios que você enfrentou em sua primeira posição de liderança?

Gerenciamento trata de fazer com que outras pessoas façam o que você quer que elas façam — mas porque elas querem fazer. Gerenciamento trata de garantir que as coisas certas sejam feitas no momento certo. Trata-se de garantir que as coisas não se quebrem ou se percam no meio do caminho.

Liderança é fundamentalmente diferente: trata-se de desafiar e romper o status quo para que uma organização possa crescer e avançar. Liderança trata de liderar uma equipe de pessoas a fazer coisas que elas nunca fizeram antes — e talvez tenham pensado que nem eram possíveis ou necessárias.

Gerentes se preocupam com ineficiências. Líderes se preocupam com obsolescência. E, sim, às vezes você é um gerente e um líder ao mesmo tempo e precisa se preocupar com ambos! Mas não deixe que os detalhes do dia-a-dia do gerenciamento distraiam você da necessidade de também ser um líder com visão.

Se você pudesse atribuir seu crescimento profissional a dois fatores, quais seriam eles?

Tenho um amigo que gosta de dizer "planeje seu trabalho e trabalhe seu plano". Fazer um plano ajuda você a pensar nos desafios pela frente e a identificar riscos antes que ocorram. Fazer um plano faz com que você entre nos detalhes do que quer que esteja tentando realizar e lhe dá um cronograma para trabalhar. Sem um plano, você não vai alcançar tanto tão rapidamente.

Dito isso, também concordo fortemente com o comentário de Eisenhower de que "Planos não são nada; o planejamento é tudo". Seus belos planos nunca vão se encaixar completamente na realidade, algo sempre surgirá para interrompê-los. Mas, o processo de planejar antecipadamente ajudará você a se preparar para esses desafios inesperados.

Enquanto isso, sempre gostei da observação de Louis Pasteur de que "o acaso favorece a mente preparada". Isso definitivamente foi verdade em minha carreira. Às vezes, são os pequenos projetos paralelos ou oportunidades insignificantes que levam a oportunidades muito maiores. Apenas faça o trabalho em mãos com 110% de sua habilidade e procure maneiras de ajudar as pessoas com seus objetivos.

Como foi ter trabalhado em uma das empresas mais icônicas da nossa época e também com uma das pessoas mais brilhantes da história?

Foi um privilégio absoluto trabalhar na Apple durante uma década de transformação e crescimento radical. Quando entrei em 2002, era considerada uma marca um pouco de nicho, com vendas anuais de “apenas” US$ 6 bilhões. Estive envolvido no lançamento de tudo, desde iPods até iPhones e iPads, além de abrir milhares de lojas de varejo ao redor do mundo.

Hoje, a Apple tem vendas anuais de mais de US$ 400 bilhões. Durante meu tempo na Apple, a empresa estava crescendo exponencialmente, ano após ano. A lição que tivemos que aprender muito rapidamente foi a importância da escalabilidade. Qualquer coisa que você fizesse para resolver os problemas de hoje tinha que ser uma solução escalável que ainda funcionaria daqui a vários anos, quando a empresa fosse inimaginavelmente maior. Tínhamos que ser líderes antecipando os desafios dos próximos anos, não apenas gerentes resolvendo os problemas do ano anterior.

Você tem uma história interessante que poderia nos contar sobre Steve? Além disso, qual é a principal coisa que você aprendeu com ele?

Tenho muitas lembranças sobre Steve, mas minha favorita é na verdade muito simples. Eu estava andando pelo estacionamento um dia quando a Apple havia acabado de lançar vários produtos novos importantes.

Steve estava no estacionamento falando no seu iPhone e eu presumi que era uma "ligação grande e importante" sobre o lançamento do produto, pedidos iniciais, críticas, etc.

Em vez disso, enquanto eu passava por ele, ouvi ele simplesmente dizer "... Eu te amo. Tchau." E percebi que ele estava fazendo o que todos nós faríamos em um dia realmente importante... Apenas ligando para casa para compartilhar o momento.

Sobre aprendizados, a principal coisa que eu diria que todos nós aprendemos com Steve foi colocar a experiência do cliente em primeiro lugar. Isso é fácil de dizer, mas muito difícil de fazer. Significa que todas as discussões usuais sobre custos, lucratividade, esforço, timing, recursos, etc., são discussões secundárias.

Claro, essas coisas precisam ser discutidas, mas a discussão principal sempre foi "Qual é a melhor experiência para o cliente?". Esse sempre foi o princípio não dito que guiava cada reunião e cada decisão. É complicado criar uma experiência simples para o cliente (mas simples criar uma complicada).

Hoje, trabalhando na Azteco, quais habilidades você mais valoriza ao contratar alguém para sua equipe?

Sempre acredito em contratar com base na capacidade futura, em vez de apenas na experiência passada. Quero ver que alguém tem a capacidade e a curiosidade para avançar, desenvolver suas habilidades e crescer com a empresa.

Lembro-me de ver muitos gerentes que foram contratados na Apple por sua experiência passada, mas depois não conseguiram acompanhar os desafios de uma empresa que estava crescendo e mudando tão rapidamente.

Além disso, estou sempre interessado nas paixões das pessoas, nas coisas que realmente as fazem se animar e transbordar de entusiasmo. Para algumas pessoas, isso pode estar relacionado ao trabalho. Para outras pessoas, isso pode ser um hobby ou um projeto pessoal. É uma pergunta muito reveladora para fazer em uma entrevista e também é muito fácil perceber se alguém tem uma resposta ensaiada.

Enquanto isso, eu diria que a maioria das pessoas que contratei em minha carreira entrou em contato comigo ou foi recomendada por um amigo. Não espere alguém postar um anúncio para o seu emprego dos sonhos, vá procurá-lo!

Aliás, às vezes você precisa encontrar a empresa onde deseja trabalhar primeiro e, em seguida, encontrar um emprego que possa fazer dentro dessa empresa — foi assim que comecei na Apple.

Quais ferramentas você mais utiliza em seu ambiente pessoal e de trabalho?

Minhas ferramentas favoritas (e mais indispensáveis) são um caderno Moleskine e uma caneta de ponta porosa PaperMate. Sou mais criativo quando posso esboçar ou escrever ideias diretamente em um caderno — ou até mesmo em uma folha de papel em branco.

Eu sei que algumas pessoas adoram criar ideias em um aplicativo, mas descobri que usar um dispositivo eletrônico distrai meus pensamentos de fluir livremente. Há algo em escrever no papel (ou dar uma longa caminhada) que libera as melhores ideias para mim.

Para projetos em equipe, tarefas e fluxos de trabalho, sou grande fã do Trello. Ele não complica sua vida com recursos desnecessários, o que significa que você se concentra mais nas tarefas que precisam ser feitas. Para projetos maiores e quadros de desenvolvimento de produtos, tive boas experiências com o Asana. Se alguém lhe disser para usar o Jira, fuja. (risos.)

Para planejamento pessoal, adoro usar o Notas da Apple. É simples de usar, sincroniza perfeitamente entre meus dispositivos e não distrai com recursos desnecessários.

Sempre termino meu dia de trabalho revisando e revisando minhas Notas para decidir no que vou trabalhar no dia seguinte e nos dias seguintes. Uma revisão diária e revisão da sua lista de tarefas é a minha melhor dica para manter-se atualizado e garantir que você esteja sempre trabalhando nas coisas mais importantes.

O que você recomendaria para alguém jovem que realmente deseja se envolver em ótimos projetos, trabalhando com pessoas excepcionais, como você fez no início de sua carreira e continua fazendo agora?

Encontre pessoas e organizações com as quais você realmente queira trabalhar. Então, encontre uma maneira de ajudá-las. Mesmo que você só possa ajudá-las um pouco aqui e ali no início, você nunca sabe para onde isso vai levar...

Quando eu estava estudando para o meu MBA, decidi que havia duas empresas com as quais realmente queria trabalhar. Ambas eram empresas de tecnologia com ótimas marcas e experiências para o cliente.

Entrei em contato com várias pessoas, mas apenas uma pessoa, um cara chamado Chris, me respondeu. Mas ele deixou bem claro que não havia vagas de emprego. No entanto, esse cara perguntou se eu estaria interessado em fazer um pequeno projeto por 3 dias, escrevendo algumas diretrizes para ajudar sua equipe a entender como lidar com os varejistas. Muitas pessoas teriam recusado esse pequeno projeto, mas concordei em ajudar.

É claro que o mini-projeto de 3 dias se transformou em 3 semanas, que depois se tornaram 3 meses... que eventualmente se tornaram 11 anos trabalhando para a Apple em todo o mundo.

Chris foi o cara que me contratou inicialmente e me deu ótimas oportunidades. Em troca, tive que trabalhar muito para conseguir essas oportunidades.

Para fechar, quais livros você recomendaria para os nossos leitores?

1. "Building a StoryBrand" de Donald Miller definitivamente vale a pena ler. Ele não oferece uma lista de verificação mágica para marketing, mas ajudará você a se comunicar de forma mais eficaz com seus clientes-alvo.

2. "Obviously Awesome" de April Dunford também definitivamente merece ser lido. É tudo sobre posicionar seu produto (ou serviço) para que os clientes entendam imediatamente o que ele faz e por que é para eles.

3. "Zen and the Art of Motorcycle Maintenance" de Robert Pirsig não é um livro sobre negócios ou marketing. Nem mesmo é um livro sobre zen ou motocicletas. É um livro lindamente escrito sobre o conceito de qualidade, por que lutamos para defini-la e por que é tão importante para a sociedade. Uma leitura recomendada para quando você estiver viajando ou de férias.